Na profecia de Amós está "uma crítica veemente e contundente aos
agentes e mecanismos de exploração e opressão dos camponeses
empobrecidos sob o governo expansionista do rei Jeroboão II e sob as
condições de um incremento de relações de empréstimos e dívidas entre
pessoas do próprio povo no século VIII a.C.”(5). Em outros termos, o
profeta Amós não apenas critica pessoas corruptas, mas questiona também
de modo muito forte o sistema gerador de pessoas corruptas. Não somente
as mazelas pessoais estão na mira do "camponês” que entrou para a
história como um grande profeta. Amós tem consciência de que o problema
fundamental da injustiça reinante na sociedade não é fruto somente de
fraquezas e ambigüidades pessoais, mas tem como causa motriz estruturas
sócio-econômico-político-cultural e religiosas que engrenam uma máquina
de moer pessoas. Na mira do profeta Amós também estão relações
comerciais que causam endividamento, aprisionam pessoas e escravizam,
retirando a liberdade de ser pessoa humana.
Além das denúncias sociais, a profecia de Amós destaca-se com o anúncio
de um juízo iminente de Javé na história do seu povo. Amós inverte as
expectativas quanto a um tão sonhado "dia de Javé” (Am 5,18-20). Este
não será mais uma "ideologia de segurança político-religiosa” pelos
fortes de Israel. A perversão da justiça para os pobres, a opressão dos
empobrecidos e a exploração das pessoas mais enfraquecidas clama pelo
juízo divino. O "dia de Javé” será um "dia mau” sobre os fortes de
Israel, sobre o estado tributário, suas instituições e seus agentes.
Amós critica com coragem a "corrida armamentista” de Israel. Ele
anuncia que serão desmanteladas as forças militares dos estados vizinhos
(Amós 1,5.8b.14b; 2,2b) e sobretudo de Israel (Amós 2,13-16; 3,11b;
5,2-3; 6,13-14).
O profeta Amós denuncia duramente também as instituições religiosas que
estão justificando o processo de extorsão de tributos da população
camponesa (Am 4,4-5; 5,21-23). Pelo conluio com a opressão econômica a
religião oficial também será dizimada (templos) e seus agentes (Am 5,27;
7,9; 9,1).
"Odeiem o mal e amem o bem: restabeleçam no portão a justiça!” (Am
5,15). "Aqui está a exigência positiva por excelência na profecia de
Amós. Os israelitas são conclamados a reconstruir as relações sociais
baseadas na justiça e no direito (mishpat / sedaqah – em hebraico). Só
assim será possível escapar do juízo vindouro anunciado. O futuro de um
"resto” passa pela prática de Justiça”(6). O juízo abre caminho para a
justiça. A presença dos profetas e profetizas no meio do povo deixa Javé
livre de qualquer responsabilidade diante da punição que o povo merece.
Não precisa nem explicitar a atualidade da profecia de Amós. Que cada
leitor/a faça as atualizações necessárias.
_____________________________
Notas:
(1) HAROLDO REIMER, "Amós – profeta de juízo e justiça”, em Os livros
proféticos: a voz dos profetas e suas releituras, RIBLA 35-36, Ed.
Vozes, Petrópolis e Ed. Sinodal, São Leopoldo, 2000, p. 171.
(2) Para melhor compreensão sugiro ler na Bíblia Am 4,4-13 (capítulo 4,
versículos de 4 a 13) antes de prosseguir a leitura do nosso texto.
(3) Gato escaldado com água quente tem medo até de água fria, diz a sabedoria popular.
(4) Sugiro ler na Bíblia Am 7,1-17 antes de prosseguir a leitura do nosso texto.
(5) HAROLDO REIMER, "Amós – profeta de juízo e justiça”, em Os livros
proféticos: a voz dos profetas e suas releituras, RIBLA 35-36, Ed.
Vozes, Petrópolis e Ed. Sinodal, São Leopoldo, 2000, p. 188.
(6) HAROLDO REIMER, "Amós – profeta de juízo e justiça”, em Os livros
proféticos: a voz dos profetas e suas releituras, RIBLA 35-36, Ed.
Vozes, Petrópolis e Ed. Sinodal, São Leopoldo, 2000, p. 189.
Nenhum comentário:
Postar um comentário