Eu também tenho mais perguntas do que respostas. Mas das respostas já
não faço questão. Madame Guyon disse que “se as respostas às perguntas
da vida são absolutamente necessárias para você, então esqueça a viagem.
Você nunca chegará lá, pois esta é uma viagem de incógnitas, de
perguntas sem resposta, de enigmas, de coisas incompreensíveis e,
principalmente, injustas”. Andamos por fé. A fé não tem a ver com
certezas, mas com confiança. Confiança em Deus, seu caráter justo,
amoroso e bom. Jesus também fez uma pergunta e não obteve resposta. O
que lhe doía não era a a falta de explicações, mas o desamparo. No dia
da tragédia não precisamos de respostas, precisamos de alguém. Deus é
suficiente para compreender nossa perplexidade, assumir posição de réu
sob nossas dúvidas, e sofrer o peso da nossa dor. Assim creram os
antigos: Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na
tribulação, pois nem a morte, pode nos separar do amor de Deus que está
em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Eu também choro. Sei que a vida continua, que não posso ficar preso
ao passado, que devo levantar a cabeça e seguir em frente, que tenho
ainda minha própria vida para viver… Mas antes preciso chorar. Preciso
acolher meu sofrimento, dar a ele boas vindas, permitir que a tragédia
faça seu caminho até o mais profundo do meu coração, fazer com que a dor
traga de volta lembranças abafadas pela correria da vida, promova
arrependimentos, desperte sonhos adormecidos, traga para a luz memórias
de afeto e alegria. Assim posso purgar tudo isso sem medo, vencer a
escuridão com a coragem de chorar. Oferecer minhas lágrimas como a mais
legítima das orações e o meu pranto como o mais sublime tributo de amor.
Jesus também chorou diante da morte. Deus é suficiente para nos
outorgar perdão, redimir palavras e gestos, recolher as palavras e
gestos que jamais deveriam ter ganho concreção, e dar destino ao que
ficou por dizer e fazer. Deus é bom e sabe amar, capaz de enxugar nossas
lágrimas e dar sentido e significado ao nosso sofrimento. Assim creram
os antigos: a tribulação produz.
Eu também fico indignado. Também não me conformo com os desmandos de
um país que agoniza sob incompetências, negligências, imperícias,
imprudências, e, principalmente, a corrupção sistêmica e a injustificada
impunidade. Mas não vou permitir que isso me torne cínico e cético. Vou
dar mais ouvidos aos idealistas, me agarrar às forças das utopias, me
deixar levar nas asas da esperança. Vou arregaçar as mangas, arar a
terra e semear o solo regado com o sangue dos justos e inocentes. Vou
repartir como meu próximo os frutos do meu sofrimento, compartilhar o
labor com tantos irmãos que ainda não se curvaram diante da
mediocridade, não se deixaram vencer pelas forças das trevas, e não se
intimidaram face aos promotores e mantenedores da morte. Jesus também
sofreu, e não desistiu. Jesus também morreu. E sua ressurreição é não
apenas convocação para a luta, mas garantia de vitória. Assim creram os
antigos: eu sei que meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra!
Ed René Kivitz
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